25 de maio de 2011

O Cristão na Sociedade Col. 1. 24-29

       Nos últimos meses temos visto muita coisa acontecendo em meio à sociedade relacionada aos cristãos. Lei da mordaça, envolvimento de evangélicos na campanha para presidente, debate sobre aborto, etc. Mas, esperançosa e pensativa nos encara uma questão: o cristão na sociedade.
O fato de o cristão estar na sociedade quer dizer que a sociedade não está, então, entregue a si mesma. Isso significa que a própria sociedade não vive sua própria lógica e mecânica naturalmente, desinibidamente. Todas as partes da sociedade como casamento, economia, cultura, arte, ciência, Estado, partidos políticos, contato com os povos estão sob o ponto de vista cristão.
As situações em que estamos acompanhando e muitas vezes vivendo, não levaram todos, mas, muitos a um esclarecimento e abalo profundos.
Agora, me respondam com sinceridade: se fosse possível, não sairíamos desta sociedade na qual não podemos confiar? Não deixaríamos tudo para construir uma vida em um lugar melhor?
Mas para onde iríamos? Retirarmos-nos da vida, da sociedade, não é possível. A própria vida nos envolve por todos os lados; ela nos coloca diante de perguntas, exige respostas. E nós temos que resistir.
Hoje, como cristãos ansiamos por uma promessa, justamente por nos terem sido abertos os olhos para a problemática da vida. Queremos sair desta sociedade; queremos outra sociedade. Mas ainda apenas queremos; ainda sentimos dolorosamente que, apesar de todas as transformações e revoluções, tudo continua na mesma. Então lembramo-nos do texto bíblico e perguntamos: “vigia, falta muito para o amanhecer?”
Por isso o cristão na sociedade passa a representar uma promessa. Um novo elemento, portanto, em meio a todas as coisas velhas; uma verdade entre o engano e a mentira; uma justiça no mar de injustiças; espírito em meio a todas as rudes tendências materiais; portanto, uma construtiva força vital em meio a todos estes fracos e inquietos movimentos espirituais; unidade, então, em toda a confusão da sociedade também do nosso tempo.
Este cristão, ao qual me refiro, não é a massa dos batizados, nem o pequeno grupo que acha que governa as Igrejas, nem tão pouco a mais reinada seleção dos mais fiéis cristãos de que nos lembramos. O cristão é o Cristo.
O Cristo é aquilo em nós que não somos nós, mas Cristo em nós. Esse “Cristo em nós” compreendido profundamente nos ensinos de Paulo: não significa um dado psíquico, nenhum estar tomado, possuído ou coisa parecida, mas uma previsão.
“Acima de nós”, “atrás de nós”, “transcendendo a nós”, é isto que significa o “em nós”.
A comunidade de Cristo é uma casa aberta para todos os lados; pois Cristo também morreu para os outros, para os que estão de fora. Em nós, acima de nós, atrás de nós, transcendendo a nós está uma reflexão que se lembre do sentido da vida, um recordar-se da origem da vida, uma volta para o Senhor do mundo, uma virada da velha eternidade para a nova eternidade. Esta nova eternidade tem um sinal e cumprimento: a cruz!
Isto é Cristo em nós. Mas será que Cristo está em nós? Podemos encontrar Cristo na sociedade hoje? Nós hesitamos em responder. E se hesitamos é porque sabemos a resposta. Como podemos negar esta verdade? Cristo, o salvador, está aí? Se estivesse, não haveria esta pergunta.
“Cristo está aí?” Esta pergunta é o sentido secreto de todos os movimentos de nossa época e que nos reuniu aqui como desconhecidos e, mesmo assim, conhecidos. É a busca de toda uma sociedade em busca de paz e de uma vida diferente.
Cristo, o Príncipe da paz está aí? Cristo, o Pai da sabedoria está aí? Cristo, o Libertador está aí? Cristo, o Salvador está aí? Cristo, o Rei da Promessa está aí?
É necessário coragem para, assim como Agostinho, encarar a verdade: “Vocês não me procurariam, se já tivessem me encontrado.
Essa coragem que temos, nós precisamos professar. Quando assumimos a coragem professamos a Cristo, assumimos que Ele está aqui e que vai voltar.
Ser cristão é levar a esperança da promessa onde nós formos. É não fugir da realidade, mas transformá-la. É agir como cristão diante das situações. É levar a presença de Deus e não a nos mesmos.
Se Cristo está em nós, a sociedade não está abandonada por Deus, apesar do seu caminho errado. A imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação, em nós: Ele significa alvo e futuro.
A esta “esperança da glória” Paulo chamou de “mistério entre os gentios”. Portanto: nós vos conclamamos a ter esperança.
Transcrito do livro:
BARTH, Karl. Dádiva e Louvor – Artigos Selecionados. Ed. Sinodal, São Leopoldo,RS. 1986

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